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Estudo mostra que concentração de renda no Brasil pode ser quase o dobro da apurada pelos dados oficiais

Levantamento da consultoria Tendências com base em dados da Receita Federal mostra que a diferença da renda da classe A para a classe D/E é de quase 39 vezes. Número é quase o dobro do apurado pela Pnad, elaborada pelo IBGE com base em entrevistas.
 
O retrato da desigualdade social no Brasil pode ser pior do que mostram os dados oficiais. Segundo cálculos feitos por uma consultoria, a diferença entre os extremos das classes de renda do país seria quase o dobro da apurada pelas pesquisas oficiais.
 
Os dados oficiais de renda e desigualdade são calculados, no Brasil, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base nos números da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (Pnad), que coleta as informações por meio de entrevistas feitas em domicílios. A partir deste levantamento, o IBGE estima que o abismo de renda da classe A para a classe D/E é de 21,4 vezes – ou seja, os mais ricos ganham 21,4 vezes mais do que recebem os mais pobres.
 
A consultoria, por sua vez, faz um exercício por recorte de rendas com base em dados da Pnad e da Receita Federal. Na simulação, a consultoria Tendências usa dados da Pnad para medir a renda da população que ganha até cinco salários mínimos. Mas, para rendas acima desse patamar, utiliza dados declarados no Imposto de Renda e que são anualmente recebidos pela Receita Federal. Com esses critérios, a diferença de renda entre a classe A e a D/E sobe para 38,8 vezes.
 
A diferença nos resultados acontece porque a Pnad tem como base entrevistas pessoais e, portanto, nem sempre consegue mensurar a renda dos mais ricos do país se uma parte dos entrevistados não declarar todos os ganhos obtidos – como bônus, renda de aluguel e dividendos, por exemplo. Com os dados do Imposto de Renda, esse tipo de problema é superado. O cálculo da consultoria considera os dados da Pnad para as faixas mais baixas porque essa fatia da população é, em grande parte, isenta da declaração do IR.
 
“A Pnad subestima muito a renda das faixas mais altas”, afirma a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro. “Quando é feito o ajuste da massa de renda com dados da Receita, o que se observa é que a diferença da classe A para a classe D e E é muito maior do que os dados do IBGE mostram”, diz.
 
No recorte por faixas de renda, a subestimação da renda pela Pnad fica evidente. A pesquisa do IBGE mostra, por exemplo, que a massa de renda (todas as rendas somadas) entre os que ganham acima de 160 salários mínimo é de R$ 14,671 bilhões. No levantamento da Tendências, ajustado com dados da Receita Federal, esse montante sobre para R$ 397,920 bilhões. Ou seja, uma diferença de 2.612,4%.
 
Numa faixa inferior, entre os que têm renda de 80 a 160 salário mínimos, a diferença entre os dois levantamentos chega a 1.454,8%. Para a Pnad, a massa de renda dessa faixa de renda somara R$ 153,731 bilhões.
 
Dados mostram piora da desigualdade
Com o país enfrentando um quadro de lenta de retomada do crescimento econômico e fraqueza no mercado de trabalho, a desigualdade voltou a crescer no ano passado.
 
No levantamento feito pela Tendências, a diferença de renda da classe A para a classe D/E subiu de 38,3 em 2017 vezes para 38,8 vezes em 2018.
 
O IBGE também divulgou neste mês uma pesquisa na qual mostrava um aumento da concentração de renda no ano passado. O índice de Gini, que mede a concentração e desigualdade de renda, subiu para 0,509 e chegou ao maior patamar da série iniciada em 2012, desde que foi iniciada a série histórica.
 
O índice de Gini varia de zero a 1. Quanto mais próximo de zero, mais perfeita é a distribuição de renda de um país. Quanto mais perto de 1, mais desigual é uma economia.
 
"Nos últimos tempos, a desigualdade aumentou e não foi pouco, em parte aumentou por causa da recessão, que é quase uma depressão", afirma Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central. "Foi uma recessão imensa e fortíssima e pegou, como sempre pega, os mais pobres do que a turma do top 1%, que está muito em voga em função não só do que acontece no Brasil, mas da elevada concentração (de renda) no mundo inteiro."
 
Os números do IBGE mostraram, por exemplo, que o rendimento médio do grupo de 1% mais ricos do país cresceu 8,4% em 2018, enquanto o dos 5% mais pobres caiu 3,2%.
 
O que fazer para reduzir a desigualdade
Na visão dos especialistas, há uma série de medidas que têm de ser adotadas para que o Brasil mitigue a desigualdade social. O primeiro passo é acelerar o crescimento econômico e, dessa forma, recuperar o mercado de trabalho, sobretudo, o formal, que costuma ter salários mais elevados.
 
“É preciso o mercado de trabalho para um ritmo mais dinâmico porque será possível incorporar os segmentos sociais mais baixos em condições melhores”, diz Alessandra.
 
Será necessário também mexer na tributação, com aumento, por exemplo, da alíquota de Imposto de Renda cobrada dos mais ricos e, ao mesmo, reduzindo a tributação sobre o consumo, que incide sobre os mais pobres.
 
"A reforma tributária deveria ter um impacto de reduzir a desigualdade. E aqui existem inúmeros absurdos que podem objeto de mudança", afirma Armínio. "Eles fazem parte sobretudo do Imposto de Renda. Os mais pobres são isentos do Imposto de Renda, mas pagam muito imposto em cima do que compram, imposto sobre o consumo", diz.
 

Fonte: G1

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